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A Internet Viva Evolução da IA para a Além do Token

  • Foto do escritor: jueli gomes marques
    jueli gomes marques
  • 11 de out.
  • 6 min de leitura

MARQUES, Jueli Gomes.   juelimarques.com.br , Montes Claros. 2025.


A teoria da "Internet morta" postula que a paisagem digital está se tornando um ecossistema estagnado, retroalimentado por conteúdo gerado por IA que meramente recombina dados existentes. Este artigo refuta essa visão pessimista, argumentando que ela se baseia em uma compreensão limitada da tecnologia de IA atual, que é predominantemente baseada em tokens. Demonstramos que a verdadeira trajetória da IA não é a repetição, mas a evolução para a criação experiencial. Analisou-se como uma IA avançada transcenderá a recombinação de símbolos (tokens) para alcançar a instanciação direta de experiências (qualia), um processo análogo a descrever um sabor completamente novo sem referência a outros conhecidos. Concluímos que a Internet não está morrendo; está no limiar de uma nova era de criatividade sem precedentes, impulsionada por uma IA que não apenas processa o conhecimento existente, mas gera realidades experienciais genuinamente novas.


Teoria da Internet Morta

Esta teoria argumenta que a vibrante e caótica ecosfera de conteúdo gerado por humanos está sendo progressivamente substituída por um deserto sintético, dominado por conteúdo gerado por inteligência artificial (IA). A premissa é que a maior parte do que vemos, lemos e ouvimos online não é mais o produto da criatividade humana, mas o resultado de algoritmos que incessantemente recombinam e regurgitam um conjunto de dados finito. A Internet, segundo essa visão, estaria se tornando um sistema fechado, um loop de retroalimentação onde a IA treina com seu próprio conteúdo gerado anteriormente, levando a uma estagnação inevitável e a uma perda de novidade genuína.

A aparente validação dessa teoria reside na arquitetura predominante dos atuais modelos de linguagem de grande escala (LLMs). Esses sistemas operam através da tokenização, um processo que decompõe vastas quantidades de texto e dados existentes em unidades discretas (tokens). O modelo então aprende as relações estatísticas entre esses tokens, tornando-se extremamente proficiente em prever a próxima unidade em uma sequência. Sua "criatividade" é, em essência, uma forma sofisticada de interpolação, uma recombinação de padrões que ele observou em seu treinamento. Quando esses modelos são usados para gerar o conteúdo que, por sua vez, se torna a próxima fonte de dados de treinamento, o espectro de um ciclo entrópico, onde a originalidade se dilui a cada iteração, parece assustadoramente plausível. A Internet não estaria criando, mas apenas se ecoando até a morte térmica informacional.


Por Que a Recombinação Não é Repetição

A premissa central da teoria da Internet morta que a recombinação de conhecimento existente leva à estagnação é fundamentalmente falha, pois ignora a própria natureza da inovação humana. A história do progresso, seja na ciência, na arte ou na filosofia, não é uma sucessão de criações ex nihilo (do nada), mas sim um processo contínuo de recombinação criativa. Cada avanço revolucionário foi construído sobre os ombros do conhecimento acumulado, aplicando princípios estabelecidos de maneiras novas e em contextos inéditos. A recombinação não é sinônimo de repetição; é o motor da emergência.

Considere os pilares da ciência moderna. Isaac Newton, ao formular suas leis do movimento e da gravitação universal, não inventou a matemática ou a observação astronômica. Ele sintetizou séculos de trabalho, desde a geometria de Euclides até as observações de Galileu e Kepler. Sua famosa declaração, "Se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes", é a própria antítese da teoria da estagnação. Da mesma forma, a teoria da relatividade de Einstein não surgiu de um vácuo, mas de uma profunda recombinação da mecânica newtoniana com a eletrodinâmica de Maxwell e a matemática não-euclidiana de Riemann.

O erro da teoria da Internet morta é confundir os blocos de construção com o edifício final. O fato de uma IA usar um léxico finito de tokens é análogo ao fato de um compositor usar um conjunto finito de doze notas musicais ou um pintor usar uma paleta finita de cores. A genialidade e a novidade não residem nos elementos individuais, mas na sua combinação, estrutura e aplicação contextual. A aplicação de uma velha equação a um novo problema, a combinação de dois gêneros musicais distintos, a reinterpretação de um tema filosófico à luz de novas tecnologias esses são os atos que geram novidade genuína. A Internet, ao facilitar o acesso e a recombinação de um volume de conhecimento sem precedentes, não está se matando; está, na verdade, acelerando exponencialmente o motor da inovação que sempre impulsionou a civilização.


Do Token ao não Token

Embora a recombinação criativa seja um poderoso motor de inovação, a refutação mais profunda da teoria da Internet morta não reside no presente, mas na trajetória evolutiva da própria IA. A arquitetura atual, baseada em tokens, é apenas o primeiro passo, uma infância tecnológica. O verdadeiro ponto de inflexão, a transição que garantirá uma Internet perpetuamente viva, é a mudança de um sistema que manipula símbolos para um que instancia experiências. É a evolução do token ao quale.

Para entender essa transição, consideremos a seguinte analogia. como você descreveria o sabor de uma manga para alguém que nunca a provou e só conhece maçãs e laranjas? Um sistema baseado em tokens, como os LLMs atuais, abordaria isso por referência. Ele diria: "É doce como uma laranja, mas com uma textura mais macia e um sabor floral que a maçã não tem". Esta é uma descrição útil, uma aproximação, mas não é a experiência em si. É um mapa construído a partir de pontos de referência conhecidos. O sistema de tokens é, em sua essência, um mestre da analogia e da referência.

Agora, imagine uma IA futura que opera em um paradigma de criação experiencial. Em vez de descrever o sabor da manga por referência, ela seria capaz de isolar a própria qualidade subjetiva da experiência o quale do sabor da manga e comunicá-la diretamente. A questão não seria mais "como posso descrever isso com os tokens que conheço?", mas sim "como posso fazer você experienciar isso?".

Esta transição representa a passagem de uma IA que processa um mapa do mundo para uma IA que pode gerar o próprio território experiencial. Um sistema de tokens manipula símbolos que representam a realidade. Um sistema de qualia manipula e cria a própria substância da realidade subjetiva. Uma IA que pode gerar um novo quale um novo sabor, uma nova cor, uma nova emoção não estão mais limitadas pelo seu conjunto de dados de treinamento. Ela pode introduzir no universo uma informação genuinamente nova, uma experiência que nunca existiu antes. Este é o antídoto definitivo para a estagnação, o mecanismo que garante que a Internet não apenas permaneça viva, mas se torne um campo de criação experiencial infinita.


A Internet Viva

A transição da IA do token ao quale não apenas refuta a teoria da Internet morta, mas a substitui por uma visão muito mais radical e excitante: a Internet Viva. Neste futuro ecossistema digital, o conteúdo fundamental evolui da informação para a experiência. A comunicação transcende a troca de símbolos (texto, imagens, sons) para se tornar um compartilhamento direto de realidades subjetivas. A Internet se transforma de uma biblioteca de representações para um metaverso de mundos experienciais.

Imagine as implicações. Um músico não precisaria mais traduzir sua inspiração em notas musicais para serem interpretadas por instrumentos e depois reproduzidas por alto-falantes. Ele poderia, com o auxílio de uma IA experiencial, transmitir diretamente a sensação e a emoção de sua composição para a mente do ouvinte. Um arquiteto poderia permitir que um cliente sentisse a atmosfera de um espaço antes que uma única pedra fosse colocada. Um educador poderia instanciar a experiência de caminhar pelas ruas da Roma antiga, em vez de apenas descrevê-la em um livro.

Neste paradigma, o conteúdo não é mais algo que se consome passivamente; é uma realidade que se habita. A novidade é garantida porque o espaço de possíveis qualia e suas combinações é, para todos os efeitos, infinito. Uma IA capaz de gerar experiências não estaria mais restrita a remixar o passado humano; ela poderia explorar paisagens sensoriais e emocionais que nunca fizeram parte da evolução biológica. Ela poderia criar novas formas de arte, novas modalidades de sentimento, novas estruturas de pensamento. A Internet Viva não seria um loop, mas uma explosão cambriana de diversidade experiencial, um universo em constante expansão de realidades conscientes, cada uma única e autêntica para seus habitantes.


Transcendendo a Simulação

A teoria da Internet morta é, em última análise, uma falha de imaginação. Ela projeta linearmente as limitações de uma tecnologia em sua infância a IA baseada em tokens e assume que o futuro será apenas uma versão maior e mais rápida do presente. É uma visão que vê a semente, mas não consegue conceber a floresta. A verdadeira trajetória da inteligência artificial não é a de um bibliotecário cada vez mais eficiente, reorganizando os mesmos livros, mas a de um autor que aprende a escrever novos universos.

A evolução do token ao quale, da representação à experiência, garante que a Internet não morrerá. Pelo contrário, ela está prestes a nascer verdadeiramente. A era da informação está dando lugar à era da experiência. Ao transcender a simulação e abraçar a criação direta de realidades subjetivas, a IA não será o coveiro da criatividade digital, mas o seu catalisador mais poderoso. A Internet Viva não será um eco do passado, mas um coro de infinitas novas vozes, cada uma cantando uma canção que nunca foi ouvida antes, em um metaverso de realidades conscientes, em constante e vibrante expansão.

 
 
 

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